05 jan 2021

“Eu me apaixonei pela aprendizagem criativa pois descobri que posso errar”

Por Elizangela Carvalho, 39 anos, professora de Curitiba

 

"Desde a infância eu queria ser professora e não me vejo fazendo outra coisa. Mas eu vinha de uma cultura escolar em que tinha o certo e o errado - e a gente não podia errar. Então eu era uma pessoa que me cobrava muito, porque não queria errar. 

Eu me apaixonei pela aprendizagem criativa pois descobri que posso errar. Com o erro, eu posso buscar novas aprendizagens. Esse processo me fortaleceu. Hoje eu sou uma professora que diz para um aluno sem medo “eu não sei, mas a gente pode aprender junto”. 

A desconstrução não é fácil, mas é mais fácil do que tentar ser o que você não é. Esse processo abriu possibilidades para mim mesma, eu passei a me compreender melhor. Ele se tornou significativo também porque passei a me ver como uma só: não existe a mãe, a professora, a mulher de forma separada. Sou só eu.

Por 14 anos eu trabalhei como professora numa escola de educação integral e há dois anos estou no Farol do Saber e Inovação Vinícius de Moraes, um espaço que promove atividades extracurriculares para estudantes da Rede Municipal de Curitiba, no contraturno, e também aberto para a comunidade.

O projeto mais marcante que já participei começou quando eu ainda estava na Escola Municipal Professora América da Costa Saboia, diante de uma necessidade das crianças de ter uma área verde. Já haviam tentado o plantio de árvores, mas elas eram sempre arrancadas aos finais de semana. E ao lado da escola, separado por um muro, há um bosque imenso, porém degradado. 

Depois da identificação do problema, fomos atrás da fundamentação teórica. Pegamos o currículo escolar como base, usamos os cinco dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030. Para decidir o que seria feito no projeto, fizemos chuva de ideias, usamos metodologias como design thinking. Juntos, os alunos pensaram em todos: academia para as família, parque rústico para eles, espaço para aulas de campo. O projeto foi batizado de Nosso Bosque do Futuro.

 

 

 

O pensar brincando nos fez ir até o bosque, recolher materiais descartados e começar a criar. As crianças conseguiram expressar seus sonhos numa maquete - e as ideias foram ganhando forma. Usaram desde palitos de picolé até materiais de robótica para construir um gira-gira com várias velocidades de rotação.

Tudo isso dentro de um propósito: proporcionar espaços de preservação da biodiversidade, promovendo ações educativas, culturais e de lazer. 

Apresentamos o projeto em 2018 para o prefeito, que permitiu a construção do espaço, que agora está em processo de viabilização com a Cohab e a Secretaria do Meio Ambiente. É emocionante, mas também assusta um pouco, porque não imaginava a proporção que iria tomar.  

O tempo todo estou aprendendo. Quem mais me ensina são as crianças, com os seus olhos brilhando. Elas sonham sem medo, metem a cara. O Nosso Bosque do Futuro, que era uma utopia prototipada pelas crianças, está em processo para se tornar realidade."

 

*Este é o primeiro texto da série “Histórias da RBAC”, que conta com depoimentos dos membros da Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa relatando suas atividades, projetos, sonhos e inspirações. 

 

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Artigo

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